Nossa Senhora da Conceição


Quaresma e Campanha da Fraternidade 2015

Quaresma e Campanha da Fraternidade 2015

         Hoje, quarta-feira de cinzas, iniciamos o tempo litúrgico da Quaresma. Neste tempo a Igreja nos lembra da importância do jejum, da oração e da prática da caridade para nos convertermos e nos prepararmos bem para celebração da grande festa da Páscoa do Senhor.

         Na grave situação política e social vivida na época do profeta Joel e em nossos dias, o Senhor chama todos à penitência: a conversão do coração, o jejum, as lágrimas e não apenas gestos exteriores, como o deixar de comer carne vermelha. A Igreja pede, no dia de hoje, que jejuemos em sinal de disponibilidade e solidariedade para com os nossos irmãos e irmãs, principalmente, o desejo de nossa conversão interior, de desprendimento, de renúncia aos bens e satisfações, mesmo legítimas, para maior liberdade interior.

         A Campanha da Fraternidade acontece durante a quaresma, tempo litúrgico importante que se apresenta como um itinerário de conversão em vista da celebração da Páscoa. Com a Campanha da Fraternidade, a Igreja quer nos indicar a conversão. Não existe conversão verdadeira se o cristão está alheio aos grandes problemas que atingem a vida em sociedade, especialmente aos irmãos e irmãs mais necessitados.

         Neste ano a Igreja Católica Apostólica Romana celebra o 50º aniversário de encerramento do Concílio Vaticano II, realizado de outubro de 1962 a outubro de 1965. Trata-se do evento mais marcante da Igreja no século XX.

         Com o tema – “Fraternidade: Igreja e Sociedade” –, e o lema – “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45) –, a Campanha da Fraternidade vai ajudar-nos a aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre Igreja e sociedade, propostos pelo Concilio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus (objetivo geral da CF 2015).

         Na Constituição Dogmática Lumen Gentium, A luz dos povos, a Igreja entende ser formada por todos os que aderem a Cristo pela fé no Evangelho e pelo batismo; ela é “Povo de Deus”, presente entre os povos e nações de todo o mundo, não se sobrepondo a eles, mas inserindo-se neles. Ela é a comunidade de todos os batizados, feitos discípulos de Jesus Cristo e testemunhas do seu Evangelho.

         Com isto o Concílio vai superar aquela visão que separava a Igreja do mundo. A Igreja se esforça por abrir-se ao diálogo com o mundo, estabelecer uma relação fecunda com as realidades humanas, acolher o novo e o bem que há em toda parte, partilhar as próprias convicções, contribuindo para a edificação do bem comum, colocando-se ao serviço do mundo, sem ser absorvida por ele.

         A Constituição Pastoral Gaudium et Spes, A alegria e a esperança, expressa essa relação com as palavras: “A alegria e a esperança, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (n. 1).

         Ela apresenta a visão cristã sobre o mundo e o homem, sua dignidade, sua existência e sua vocação; reflete sobre a comunidade humana e as relações sociais, o sentido do trabalho e da cultura e sobre a participação da Igreja, enquanto “Povo de Deus” inserido na sociedade, na promoção do bem de toda a comunidade humana.

         Os cristãos e suas organizações tomam parte da história dos povos e da grande família humana. E a Igreja, “Povo de Deus”, fiel à missão recebida de Jesus Cristo, quer estar a serviço da comunidade humana, não zelando apenas pelos seus projetos internos e seu próprio bem. O papa Francisco nos recorda isso constantemente nos seus pronunciamentos: que ela precisa ser “uma Igreja em saída”, uma “comunidade samaritana”, ou como “um hospital de campo”, para socorrer e assistir os feridos… Mas também quando diz que a Igreja não pode se omitir, nem abster de dar sua contribuição para a reta ordem ética, social, econômica e política da sociedade.

    A CF retoma essas intuições fecundas do Concílio e as propõe novamente à reflexão no contexto brasileiro, neste ano de 2015. A promoção do verdadeiro espírito fraterno no convívio social é, sem dúvida, um importante serviço à sociedade.

         Maria, Mãe de Deus e nossa,  aquela que soube ouvir o que o Senhor falou, nos ajude a estarmos atentos àquilo que a Igreja nos fala através da CF 2015 para podermos participar efetivamente na construção do Reino de Deus, de fraternidade e de liberdade, de justiça e de paz.

Ilhéus, 18 de fevereiro de 2015

Dom Mauro Montagnoli CSS

Bispo diocesano de Ilhéus